Foto ILPISA (www.valedourado.com.br) |
A história do leite de Alagoas
A produção e a industrialização
do leite em Alagoas, destacada no cenário nacional, teve na formação de suas
bases uma coleção de ações empreendedoras, as quais foram executadas por homens
regionalistas muito compromissados com o desenvolvimento local. Símbolos de
resistência e obstinados, eles foram brilhantes e ficarão para sempre nas
páginas da história. Suas
iniciativas foram revolucionárias para as respectivas épocas, sendo grandes
exemplos para nossas gerações e para as futuras. Isto porque, dentro de uma
condição política, econômica, geográfica e social bastante adversa, vivida no
semiárido, tudo conspirava contra o sucesso.
Na busca da
sustentabilidade econômica na região Nordeste, Delmiro Gouveia não poupou
esforços na procura incansável de caminhos que promovessem o desenvolvimento
local. Em uma de suas viagens ao estado do Texas (EUA), início do século XX, no
intuito de colaborar com a atividade pecuária, trouxe as primeiras sementes de
palma forrageira que hoje, após vários aprimoramentos genéticos e tecnológicos,
é o alimento volumoso mais estratégico de nossa pecuária leiteira instalada no
semiárido.
Antônio Ildefonso da Silva Amaral, o Major Amaral, foi contemporâneo de Delmiro Gouveia em Alagoas. Eles concorriam entre si no mercado regional de algodão. Major Amaral era proprietário de usinas para beneficiamento de algodão, chegou em Sertãozinho para ampliar os seus negócios e fundou a Fazenda Braz. Sertãozinho, na época, era distrito de Santana do Ipanema (AL), para depois se tornar o atual município Major Isidoro.
Antônio Ildefonso da Silva Amaral, o Major Amaral, foi contemporâneo de Delmiro Gouveia em Alagoas. Eles concorriam entre si no mercado regional de algodão. Major Amaral era proprietário de usinas para beneficiamento de algodão, chegou em Sertãozinho para ampliar os seus negócios e fundou a Fazenda Braz. Sertãozinho, na época, era distrito de Santana do Ipanema (AL), para depois se tornar o atual município Major Isidoro.
Em 1921,
Alfredo Ferreira de Moraes também chegou na região procedente de São
Bento do Una, Pernambuco, e se instalou à margem direita do Rio Ipanema,
formando a Fazenda Cachoeirinha, a uma distância de vinte quilômetros do centro da atual
cidade de Major Isidoro. Lá começou o plantio da palma forrageira para
alimentar o gado leiteiro.
Em 1928, Leopoldo Tíndaro do Amaral, pai de Mair Amaral, chegou ao mesmo distrito com a família. Procedente da cidade de Correntes (PE), instalou-se na Fazenda Braz, seguiu o empreendedorismo de seu tio Major Amaral (também chamado Tio Toinho), incrementando o plantio da cactácea e promovendo a criação de gado mestiço de holandês.
A relação entre o algodão e a criação de gado leiteiro no sertão das Alagoas era muito promissora na época, pois o caroço de algodão, resultante do beneficiamento dessa cultura, era uma importante fonte proteica e energética para o gado, podendo ser estocado e guardado como reserva. Associado à palma forrageira, era a saída balanceada para enfrentar a seca e produzir leite no semiárido do início do século XX.
Em 1943 chegaram os irmãos Cintra. Os quais, além da criação de gado leiteiro, iniciaram o fabrico artesanal de queijo de manteiga.
Em 1928, Leopoldo Tíndaro do Amaral, pai de Mair Amaral, chegou ao mesmo distrito com a família. Procedente da cidade de Correntes (PE), instalou-se na Fazenda Braz, seguiu o empreendedorismo de seu tio Major Amaral (também chamado Tio Toinho), incrementando o plantio da cactácea e promovendo a criação de gado mestiço de holandês.
A relação entre o algodão e a criação de gado leiteiro no sertão das Alagoas era muito promissora na época, pois o caroço de algodão, resultante do beneficiamento dessa cultura, era uma importante fonte proteica e energética para o gado, podendo ser estocado e guardado como reserva. Associado à palma forrageira, era a saída balanceada para enfrentar a seca e produzir leite no semiárido do início do século XX.
Em 1943 chegaram os irmãos Cintra. Os quais, além da criação de gado leiteiro, iniciaram o fabrico artesanal de queijo de manteiga.
Humberto
Pontes Lyra, natural de São José da Lage (AL), amigo pessoal de Mair Amaral, foi o
primeiro médico veterinário de Alagoas. Ele teve um fundamental papel na
transferência de tecnologias que embasaram a formação da Bacia Leiteira de
nosso Estado, sendo o responsável na articulação dos processos tecnológicos que
subsidiaram os produtores de leite de nossa incipiente bacia leiteira.
Em 1941 realizou em São José da Laje a primeira Exposição Agropecuária de Alagoas. Depois, organizou exposições agropecuárias em Maceió e Palmeira dos Índios.
Em 1955, doutor Humberto foi designado pelo Ministro da Agricultura para
adquirir, no Estado do Rio Grande do Sul, reprodutores de alto pedigree para
serem vendidos aos criadores alagoanos; naquela missão, convidou, e obteve a
aprovação do Diretor Geral de Produção Animal para acompanhá-lo, um dos maiores
criadores de gado leiteiro da região – Mair Amaral.
Ao longo dos anos, Humberto Lyra liderou as ações para concretização de nossa Bacia Leiteira de Alagoas, com o apoio de grandes fazendeiros da região, tais como: Mair Amaral e Hildebrando Cintra.
Em 1941 realizou em São José da Laje a primeira Exposição Agropecuária de Alagoas. Depois, organizou exposições agropecuárias em Maceió e Palmeira dos Índios.
Dr Humberto Lyra ao lado de Tenório Cavalcante |
Pronunciamento de Humberto Lyra na primeira exposição de animais de Palmeira dos Índios AL
Ao longo dos anos, Humberto Lyra liderou as ações para concretização de nossa Bacia Leiteira de Alagoas, com o apoio de grandes fazendeiros da região, tais como: Mair Amaral e Hildebrando Cintra.
Recepção dos bovinos leiteiros em Maceió |
Décio Lyra,
filho de Humberto Lyra, e também médico veterinário, relatou-me que teve a
oportunidade de conhecer o grande empreendedor Mair Amaral. Disse-me que nas
esporádicas viagens a Riacho do Sertão, onde seu pai tinha uma propriedade,
costumava se hospedar na casa dos irmãos Cintra, com os quais tinha grande
amizade. Disse-me mais: “tive a curiosidade de estudar a introdução da palma
forrageira (Opuncia sp) em
Alagoas por Delmiro Gouveia. A partir de tais estudos elaborei um trabalho que
foi apresentado no Congresso de Veterinária em Porto Alegre em 1959, ano que me
formei em veterinária na UFRRJ.”
Décio Lyra, falecido neste ano de 2017, era casado com Tânia Lyra, uma médica veterinária destacada nacionalmente.
Décio Lyra, falecido neste ano de 2017, era casado com Tânia Lyra, uma médica veterinária destacada nacionalmente.
Nos anos
sessenta o nome de Mair Amaral emergia para se concretizar como o maior símbolo
da produção leiteira no Nordeste e um dos maiores ícones da pecuária leiteira
nacional. O legendário pecuarista ficou registrado na história do
desenvolvimento agropecuário alagoano e está intrinsecamente ligado ao
melhoramento genético de nosso rebanho leiteiro, à produção em escala e à
industrialização.
A Seca de 1970
O ano de 1970 foi o ápice de um ciclo terrivelmente seco que assolou nosso Nordeste, provocou legiões incontáveis de retirantes famintos pelas ruas dos centros urbanos e que resultou em muitas mortes de animais e pessoas. Como também contribuiu para a formação de uma geração raquítica de seres humanos, vitimada pela desnutrição e pelas suas sequelas irreparáveis. Um quadro muito bem identificado com o poema Morte e Vida Severina, do escritor pernambucano João Cabral de Mello Neto.
Naquele ano
a arte do escritor alagoano Graciliano Ramos, no livro Vidas Secas, foi
claramente retratada e identificada com nossa dura realidade:
“A caatinga
estendia-se de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram
ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos
moribundos.” (Vidas Secas - Graciliano Ramos)
Porém, ainda
no ano de 1970, empreendedor e detentor de um forte espírito regionalista, o
pecuarista Mair Amaral ordenhava suas vacas e era o responsável por uma
incrível produção de dez mil litros de leite por dia. Ocasião em que, com a
atividade leiteira, empregou e deu moradia a centenas de migrantes vítimas das
consequências daquela grave seca, e que não tinham nada para comer, chegavam
padecendo na miséria com toda a família.
Paradigmas Avançados
Em 1970 ele era um dos maiores produtores de leite do Brasil.
Paradigmas Avançados
Em 1970 ele era um dos maiores produtores de leite do Brasil.
Mair Amaral |
Para se ter
uma ideia da proeza de Mair Amaral, se estivesse vivo e se esta mesma produção
fosse repetida no início deste século (XXI), ele ainda seria, individualmente, um dos maiores
produtores de leite do Brasil.
Em 2001, o
seu filho Paulo Amaral, com uma produção individual de 7.000 litros de leite
por dia no semiárido alagoano, foi classificado pelo Site Milkpoint como o maior produtor do Norte e
Nordeste do Brasil. Como também, fruto daquela produtiva semente, toda família
Amaral em Alagoas produzia algo em torno de 35.000 litros de leite por dia,
e tem uma história moderna marcada por ações empreendedoras e auto-sustentáveis
nesta atividade.
Na melhoria da qualidade genética de nosso rebanho leiteiro, Mair Amaral era um incansável pesquisador. Por diversas vezes importou do sul do Brasil matrizes e reprodutores, de altas linhagens de origem europeia, objetivando formar um cruzamento racial ideal adaptado para nosso semiárido. Teve na raça holandesa sua principal preferência para a inserção de cargas genéticas altamente especializadas nos cruzamentos que programou para os seus rebanhos estudados. Assim, foi um dos pioneiros que mais contribuiu na formação da raça Girolando. É um fato histórico de relevância para o agronegócio nacional.
Muitas vezes este empreendedor recebeu críticas de reacionários que não enxergavam no mesmo alcance da visão de um homem que, pela criatividade e inteligência genial, mudou para melhor o rumo da história agropecuária do sertão alagoano.
O Início da Industrialização do Leite em Alagoas
Após contatos e negociações com empresários pernambucanos, Mair Amaral convenceu-os a instalar pioneiramente em Alagoas, mais precisamente na Fazenda Boa Vista (município de Batalha), uma filial da Indústria de Laticínios Santa Maria.
Depois, resultante da evolução desse processo de industrialização do leite em Alagoas, instalou-se na cidade de Batalha uma unidade de beneficiamento do Leite Nordeste, para depois surgir a CILA (Companhia Industrial de Laticínios de Alagoas), que era dirigida pelo seu tio Luiz Alapenha Amaral. A CILA passou por um processo de estatização e tempos depois finalmente terminou na fundação, em 1980, da unidade industrial da CAMIL (Cooperativa Agropecuária de Major Isidoro Ltda). Cuja fábrica se manteve sediada na cidade de Batalha, às margens do rio Ipanema.
A CAMIL foi por muito tempo líder de vendas de leite tipo C no Estado de Alagoas. Produziu também muito leite em pó e manteiga. Hoje, depois do grande sucesso que teve no passado, devido a vários conflitos de gestão que se sucederam até o ano de 2009, a cooperativa entrou em profunda crise financeira, abrindo espaços e oportunidades para o desenvolvimento da nova geração de laticínios.
O Nascimento de Modernas Indústrias de Laticínios
Nos anos 80, pela melhoria da qualidade genética de nossos rebanhos, pela descoberta de formulações nutricionais viáveis, a produção de leite em Alagoas já tinha uma das maiores médias nacionais, conforme dados oficiais. A exposição de animais de Batalha integrava calendários internacionais de referência em gado de leite.
Uma indústria de porte apenas, a CAMIL, não estava absorvendo a oferta de nosso leite, e grande parte da produção alagoana dependia de mercados industriais nos vizinhos Estados de Pernambuco, Bahia e Sergipe. Fato que resultava numa série de transtornos comerciais. Até que José de Azevedo Amaral (Coronel Amaral), natural de Correntes, Estado de Pernambuco, primo e genro de Mair Amaral, decidiu montar mais uma indústria em Alagoas e equacionar os problemas comerciais de nossa produção. Atitude altamente louvável que resultou num Projeto SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), que implantou a Indústria de Laticínios Palmeira dos Índios S/A (ILPISA). A qual nascia em 1985 com aquele mesmo espírito empreendedor e na promessa de ser a nova redentora da pecuária leiteira alagoana. A ILPISA teve o apoio de empresários e políticos de Palmeira dos Índios, como Noé Simplício do Nascimento, Sinval Gaia e muitos outros.
Inaugurada em 1987, na cidade de Palmeira dos Índios, manteve-se sob o comando acionário de José de Azevedo Amaral até o ano de 1990, quando então foi assumida pelo empresário Ricardo de Souza Leão Sampaio. Através dele foi inserida a Marca Valedourado nos produtos beneficiados até os dias de hoje, dividindo posições de liderança em diversos itens com Parmalat e Nestlé, na Região Nordeste, nos anos ’90.
Coincidentemente, Ricardo Sampaio, usineiro advindo da zona da mata e tradicionalmente comprometido com a cultura da cana-de-açúcar e a sua industrialização, já se encontrava inserido modestamente na industrialização de leite em Alagoas quando comprara, nos anos oitenta, o Laticínio Alapenha Amaral, situado na cidade de Major Isidoro, o qual pertencia ao empreendedor Luiz Alapenha Amaral, tio de Mair Amaral. O laticínio, depois de adquirido, passou a ser denominada de Laticínios RS. Porém, teve as suas atividades paralisadas logo após a aquisição da ILPISA que centralizou as operações de beneficiamento de leite.
Em 1991, dois empresários que atuavam como distribuidores dos produtos ILPISA, Paulo e Daniel Domingos, inauguraram o Laticínio São Domingos, na cidade de União dos Palmares, e a partir de 1997 passaram a beneficiar um mix diversificado de lácteos, incluindo leite longa vida. Ocasião em que passaram a beneficiar, de forma terceirizada, produtos lácteos achocolatados para a multinacional Quaker.
Neste mesmo período, José Aprígio Brandão Vilela, na cidade de Viçosa, passava a empacotar leite pasteurizado tipo “A” de sua produção na histórica e modernizada Fazenda Boa Sorte. Fábrica que se destacou pela qualidade de seus produtos e foi uma das pioneiras no Brasil a comercializar coalhadas industrializadas.
A Evolução da Indústria Moderna
A ILPISA focou suas atividades iniciais no beneficiamento de leite tipo C, manteiga e queijo mussarela. A partir de 1992, diversificou progressivamente sua produção, incluindo queijo prato, ricota, queijo soft (tipo desenvolvido na própria ILPISA), requeijão cremoso, bebida láctea achocolatada, iogurtes, bebidas lácteas com frutas, leite fermentado, leite longa vida, leite achocolatado esterilizado, leites enriquecidos, leite com frutas, iogurtes batidos, coalhadas, bebidas isotônicas, chás prontos para beber, suco da marca Tampico etc. Esta diversificação de produtos, no objetivo de atender a um mercado que entrava realmente num processo globalizado, foi fator decisivo para o sucesso da empresa. Até porque o governo federal já tinha dado sinais, em vários momentos, quanto à sua política leiteira para o país.
Com apenas uma unidade industrial localizada na cidade de Palmeira dos Índios, unidade esta dirigida pelo médico veterinário Roberto Amaral de 1991 a 2000, que também era o responsável técnico pelo desenvolvimento dos produtos Valedourado, a empresa teve um crescimento espetacular no seu faturamento justamente em um período de crise setorial. A partir de um faturamento de R$ 9,6 milhões em 1994, passou para um faturamento de R$ 116 milhões em 2000 (valores da época).
No ano de 2000, a ILPISA adquiriu duas unidades industriais que pertenciam à multinacional Fleishmann & Royal, detentora do Leite Glória, sendo uma sediada no Estado da Bahia e outra planta industrial sediada em Minas Gerais, na cidade de Governador Valadares. Tornando-se o primeiro caso brasileiro em que uma indústria de laticínios nordestina adquiriu unidades estratégicas de empresas multinacionais.
A marca Valedourado, que nasceu no semiárido alagoano, despontou no novo século como o 8º nome do leite nacional, segundo crítica especializada. Motivo pelo qual recebeu premiação do Jornal Gazeta Mercantil, em São Paulo. Além de ter sua área de qualidade - controlada então por Roberto Amaral - contemplada com o cobiçado Prêmio Internacional de Qualidade Assegurada da Marbo Inc, Chicago, USA (Quality Assurance Award), em 2001. Título que na ocasião foi dado apenas a dez indústrias processadoras de Tampico nos quase sessenta países onde este produto é beneficiado. Em 2003, Roberto Amaral se desligou do vínculo empregatício com a ILPISA (Valedourado).
O novo milênio trouxe boas novidades. Empresas de pequeno porte passaram a se evidenciar no mercado alagoano de produtos lácteos, tais como: Leite Batalha, Leite Muu, Frutigutti e Ducamp.
Na melhoria da qualidade genética de nosso rebanho leiteiro, Mair Amaral era um incansável pesquisador. Por diversas vezes importou do sul do Brasil matrizes e reprodutores, de altas linhagens de origem europeia, objetivando formar um cruzamento racial ideal adaptado para nosso semiárido. Teve na raça holandesa sua principal preferência para a inserção de cargas genéticas altamente especializadas nos cruzamentos que programou para os seus rebanhos estudados. Assim, foi um dos pioneiros que mais contribuiu na formação da raça Girolando. É um fato histórico de relevância para o agronegócio nacional.
Mair Amaral |
Muitas vezes este empreendedor recebeu críticas de reacionários que não enxergavam no mesmo alcance da visão de um homem que, pela criatividade e inteligência genial, mudou para melhor o rumo da história agropecuária do sertão alagoano.
O Início da Industrialização do Leite em Alagoas
Após contatos e negociações com empresários pernambucanos, Mair Amaral convenceu-os a instalar pioneiramente em Alagoas, mais precisamente na Fazenda Boa Vista (município de Batalha), uma filial da Indústria de Laticínios Santa Maria.
Depois, resultante da evolução desse processo de industrialização do leite em Alagoas, instalou-se na cidade de Batalha uma unidade de beneficiamento do Leite Nordeste, para depois surgir a CILA (Companhia Industrial de Laticínios de Alagoas), que era dirigida pelo seu tio Luiz Alapenha Amaral. A CILA passou por um processo de estatização e tempos depois finalmente terminou na fundação, em 1980, da unidade industrial da CAMIL (Cooperativa Agropecuária de Major Isidoro Ltda). Cuja fábrica se manteve sediada na cidade de Batalha, às margens do rio Ipanema.
A CAMIL foi por muito tempo líder de vendas de leite tipo C no Estado de Alagoas. Produziu também muito leite em pó e manteiga. Hoje, depois do grande sucesso que teve no passado, devido a vários conflitos de gestão que se sucederam até o ano de 2009, a cooperativa entrou em profunda crise financeira, abrindo espaços e oportunidades para o desenvolvimento da nova geração de laticínios.
O Nascimento de Modernas Indústrias de Laticínios
Nos anos 80, pela melhoria da qualidade genética de nossos rebanhos, pela descoberta de formulações nutricionais viáveis, a produção de leite em Alagoas já tinha uma das maiores médias nacionais, conforme dados oficiais. A exposição de animais de Batalha integrava calendários internacionais de referência em gado de leite.
Uma indústria de porte apenas, a CAMIL, não estava absorvendo a oferta de nosso leite, e grande parte da produção alagoana dependia de mercados industriais nos vizinhos Estados de Pernambuco, Bahia e Sergipe. Fato que resultava numa série de transtornos comerciais. Até que José de Azevedo Amaral (Coronel Amaral), natural de Correntes, Estado de Pernambuco, primo e genro de Mair Amaral, decidiu montar mais uma indústria em Alagoas e equacionar os problemas comerciais de nossa produção. Atitude altamente louvável que resultou num Projeto SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), que implantou a Indústria de Laticínios Palmeira dos Índios S/A (ILPISA). A qual nascia em 1985 com aquele mesmo espírito empreendedor e na promessa de ser a nova redentora da pecuária leiteira alagoana. A ILPISA teve o apoio de empresários e políticos de Palmeira dos Índios, como Noé Simplício do Nascimento, Sinval Gaia e muitos outros.
Inaugurada em 1987, na cidade de Palmeira dos Índios, manteve-se sob o comando acionário de José de Azevedo Amaral até o ano de 1990, quando então foi assumida pelo empresário Ricardo de Souza Leão Sampaio. Através dele foi inserida a Marca Valedourado nos produtos beneficiados até os dias de hoje, dividindo posições de liderança em diversos itens com Parmalat e Nestlé, na Região Nordeste, nos anos ’90.
Coincidentemente, Ricardo Sampaio, usineiro advindo da zona da mata e tradicionalmente comprometido com a cultura da cana-de-açúcar e a sua industrialização, já se encontrava inserido modestamente na industrialização de leite em Alagoas quando comprara, nos anos oitenta, o Laticínio Alapenha Amaral, situado na cidade de Major Isidoro, o qual pertencia ao empreendedor Luiz Alapenha Amaral, tio de Mair Amaral. O laticínio, depois de adquirido, passou a ser denominada de Laticínios RS. Porém, teve as suas atividades paralisadas logo após a aquisição da ILPISA que centralizou as operações de beneficiamento de leite.
Em 1991, dois empresários que atuavam como distribuidores dos produtos ILPISA, Paulo e Daniel Domingos, inauguraram o Laticínio São Domingos, na cidade de União dos Palmares, e a partir de 1997 passaram a beneficiar um mix diversificado de lácteos, incluindo leite longa vida. Ocasião em que passaram a beneficiar, de forma terceirizada, produtos lácteos achocolatados para a multinacional Quaker.
Neste mesmo período, José Aprígio Brandão Vilela, na cidade de Viçosa, passava a empacotar leite pasteurizado tipo “A” de sua produção na histórica e modernizada Fazenda Boa Sorte. Fábrica que se destacou pela qualidade de seus produtos e foi uma das pioneiras no Brasil a comercializar coalhadas industrializadas.
A Evolução da Indústria Moderna
A ILPISA focou suas atividades iniciais no beneficiamento de leite tipo C, manteiga e queijo mussarela. A partir de 1992, diversificou progressivamente sua produção, incluindo queijo prato, ricota, queijo soft (tipo desenvolvido na própria ILPISA), requeijão cremoso, bebida láctea achocolatada, iogurtes, bebidas lácteas com frutas, leite fermentado, leite longa vida, leite achocolatado esterilizado, leites enriquecidos, leite com frutas, iogurtes batidos, coalhadas, bebidas isotônicas, chás prontos para beber, suco da marca Tampico etc. Esta diversificação de produtos, no objetivo de atender a um mercado que entrava realmente num processo globalizado, foi fator decisivo para o sucesso da empresa. Até porque o governo federal já tinha dado sinais, em vários momentos, quanto à sua política leiteira para o país.
Com apenas uma unidade industrial localizada na cidade de Palmeira dos Índios, unidade esta dirigida pelo médico veterinário Roberto Amaral de 1991 a 2000, que também era o responsável técnico pelo desenvolvimento dos produtos Valedourado, a empresa teve um crescimento espetacular no seu faturamento justamente em um período de crise setorial. A partir de um faturamento de R$ 9,6 milhões em 1994, passou para um faturamento de R$ 116 milhões em 2000 (valores da época).
Maior média nacional por produtor de leite, no fim dos anos 90 |
No ano de 2000, a ILPISA adquiriu duas unidades industriais que pertenciam à multinacional Fleishmann & Royal, detentora do Leite Glória, sendo uma sediada no Estado da Bahia e outra planta industrial sediada em Minas Gerais, na cidade de Governador Valadares. Tornando-se o primeiro caso brasileiro em que uma indústria de laticínios nordestina adquiriu unidades estratégicas de empresas multinacionais.
A marca Valedourado, que nasceu no semiárido alagoano, despontou no novo século como o 8º nome do leite nacional, segundo crítica especializada. Motivo pelo qual recebeu premiação do Jornal Gazeta Mercantil, em São Paulo. Além de ter sua área de qualidade - controlada então por Roberto Amaral - contemplada com o cobiçado Prêmio Internacional de Qualidade Assegurada da Marbo Inc, Chicago, USA (Quality Assurance Award), em 2001. Título que na ocasião foi dado apenas a dez indústrias processadoras de Tampico nos quase sessenta países onde este produto é beneficiado. Em 2003, Roberto Amaral se desligou do vínculo empregatício com a ILPISA (Valedourado).
O novo milênio trouxe boas novidades. Empresas de pequeno porte passaram a se evidenciar no mercado alagoano de produtos lácteos, tais como: Leite Batalha, Leite Muu, Frutigutti e Ducamp.
Roberto Amaral |
No final de 2006, Roberto Amaral foi convidado por Jadielson Pessoa - conhecido empresário do setor de supermercados - para ingressar em uma nova sociedade empresarial, que seria sediada na cidade de Palmeira dos Índios (AL). Assim, surgia a empresa Indústrias Reunidas Bona Sorte Ltda. A qual se originou da aquisição, mediante leilão, da estrutura do parque industrial do Leite Fazenda Boa Sorte que pertenceu a José Aprígio Brandão Vilela, sendo edificada e ampliada no município de Palmeira dos Índios dentro de uma nova visão do negócio de laticínios.
A inauguração da Bona Sorte aconteceu em 29 de junho de 2010.
O marco
histórico deste feito foi: o município de Palmeira dos Índios (AL), que já
sediava a ILPISA, com a inauguração da Bona Sorte se tornou o centro da
industrialização do leite no Estado; enquanto que o município de Major Isidoro
(bacia leiteira) é o centro da produção do leite Alagoano.
A Bona Sorte
ganhou muito destaque no mercado regional, tomando posições importantes em
curto espaço de tempo, sendo muito bem avaliada pelo mercado desde os seus
primeiros meses de funcionamento.
Em Maio de 2015 a Indústria Bona Sorte não mais estava sob o
comando do grupo empreendedor que a fundou. Ela foi adquirida pela família
Cavalcante que é liderada por Daniel Cavalcante, mediante compra. Ele ficou no
comando e à frente de todas as decisões da empresa desde então.
2017 é um ano marcante, começou na angústia do ciclo histórico de
seis anos consecutivos de seca na região - e não sabemos para onde isso vai. Alguns estudiosos relatam que esta é
a pior seca de todos os tempos, agravando um quadro que já era muito desfavorável
pela recessão econômica e pela crise do setor leiteiro. A desvalorização das
commodities lácteas nas bolsas internacionais, desde alguns anos, foi apenas
mais um fator para deixar o setor mais depressivo ainda.
O nordeste assistiu ao fechamento de indústrias de
laticínios, baixo investimento no setor, plantas industriais ociosas,
desemprego e desmotivação.
Vamos em frente, marchar é preciso!
Vamos em frente, marchar é preciso!
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@robertoamarallira
Parabéns Roberto!
ResponderExcluirTexto histórico, bateu um misto de saudade e orgulho em também ter participado da história do leite em Alagoas.
Bons tempos de Valedourado.
Danilo, forte abraço!
ExcluirBons tempos, realmente. Foi uma época desafiadora, vibrante e de muitos sucessos nos anos 90. Graças a Deus!
Um documentário que deveria ser apresentado nas escolas para que as novas gerações conheçam a luta das personalidades que influenciaram e os que hoje influenciam e lutam para que o yogurte o leite e outros derivados chegam com qualidade em suas mesas e lancheiras. Parabéns Dr. Roberto Amaral e muito sucesso.
ResponderExcluirSonielma, forte abraço e muito obrigado!
ExcluirVocê trabalhou numa unidade de captação e pré beneficiamento de leite da ILPISA na época. Faz parte da história.
Parabéns meu eterno chefe, grande profissional que nunca mediu esforço para essa história fosse escrita. Orgulho de também participar dessa bela história. Um abraços, parabéns.
ResponderExcluirSAUDADES ADELMO.
Forte abraço, amigo Adelmo!
ExcluirParabéns Roberto .
ResponderExcluirImportante demais resgatar a história de homens empreendedores, que como você tiveram papel significativo para a formação da indústria leiteira do Estado de Alagoas.
Muito obrigado, amigo Luiz. Forte abraço!
ExcluirMuito obrigado, amigo André.
ResponderExcluirTenho muito orgulho de ser prima de Mair Guedes Amaral. Homem trabalhador, que contribuiu para o desenvolvimento de Alagoas. Abraços, Roberto Amaral!
ResponderExcluirForte abraço!
ExcluirUma história ainda desconhecida por mim...parabéns pela trajetória e, principalmente agora, precisamos de pessoas como você liderando e empreendendo no mercado alagoano. Parabéns pela trajetória!
ResponderExcluirMuito obrigado, amigo!
ExcluirÓtimo texto, excelente História de uma da mais impostantes atividades econômicas do estado de Alagoas, referência para outras partes do Brasil, fatos como esse deveriam ser do conhecimento de todos, um modelo único de produção, verdadeiro Case de sucesso Made in Sertão Alagoano.
ResponderExcluirMuito obrigado, amigo!
ExcluirDr. Roberto, quanta gratidão por profissionais como você ter exercido papel tão importante para o desenvolvimento de nosso estado. Meu pai fala bastante de você, o nome dele é Edson Araújo, ele juntamente com Rubens fizeram com o sr e Dr. Ricardo, muitos projetos de locação e adaptação da planta da Ilpisa nos anos 90 para voltar a funcionar. Gratidão define a toda equipe!
ResponderExcluirTambém sou muito grato por esta bela parceria que tivemos.
ExcluirForte abraço, amigo!
Muito obrigado, Amigo!
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